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Ronaldo: ‘Saída de Mano atrasou a seleção’

Herói do pentacampeonato gosta mais de Tite que de Felipão - que nem é seu segundo técnico preferido, mas Muricy
ES Rio de Janeiro/RJ 03/04/2013 Entrevista com o ex jogador Ronaldo em seu escritorio na Barra da Tijuca. Foto Ivo Gonzalez / Agencia O Globo Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo
ES Rio de Janeiro/RJ 03/04/2013 Entrevista com o ex jogador Ronaldo em seu escritorio na Barra da Tijuca. Foto Ivo Gonzalez / Agencia O Globo Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo

Você disse que o futebol do Brasil vive o pior momento. Como assim?

Apesar de termos tempo até a Copa do Mundo, o torcedor quer sua seleção forte desde já. Quer vitória e jogando bem. Essa mudança de treinador atrasou ainda mais...

Aprovou a troca do Mano Menezes pelo Felipão?

Achei precipitada. Eu me sinto muito à vontade para fazer esta crítica, porque estou fora da CBF. Sequer falei de novo com Ricardo Teixeira (ex-presidente que o convidou para o Comitê Organizador Local). Mano já estava conseguindo fazer o time jogar melhor.

Segundo Paulo Autuori, nossos técnicos estão ultrapassados, muito por arrogância deles. Concorda?

Não existe mais espaço para este tipo de treinador, arrogante, ditador, velho, general e que quer mandar em tudo. O jogador está mais antenado, esperto e se informa mais. Os tempos mudaram. O trato tem de ser na conversa.

Qual é o melhor técnico brasileiro?

O Tite e, depois, o Muricy.

Tite chegou a ser cotado para a seleção. Seria o melhor nome?

O cargo não está vago. O Felipão acabou de entrar!

O Felipão está ultrapassado?

Conheço o Felipão de 2002.

Estamos em 2013...

Por isso é difícil comentar como está hoje. Lembro um cara divertido, alegre, fantástico líder de grupo. Vai saber conquistar o grupo rapidamente, formar a Família Scolari II. Eu tenho esperança que ele possa repetir 2002.

Qual a sua seleção para a Copa das Confederações?

Não vejo outra opção além das que já foram de Mano e que são agora do Felipão. O treinador terá de motivá-los para que deem a vida em cada jogo.

Fred não era chamado por Mano e voltou com Felipão, marcando gols, inclusive. Estaria no seu grupo?

No Brasil, não existe jogador incontestável. Nem na época de Romário e Bebeto. Há sempre uma sombra. Não há ninguém 100% garantido, mas alguns têm grandes chances. É diferente.

Quem?

Neymar, Oscar e Thiago Silva.

Você, quando estava no auge, era incontestável?

Não. Matei um leão por dia para estar lá.

Quem pode fazer frente ao Messi?

Ele e Cristiano Ronaldo são incontestáveis (risos). Se o Neymar fosse para a Europa, poderia competir com eles. Azar do Cristiano Ronaldo que nasceu na mesma geração do Messi.

Thiago Silva, Oscar e Ramires disseram que é mais fácil jogar no Brasil que lá fora. O Brasil está atrasado?

É sinal de atraso! Mas vai mudar depois de 2014. Teremos 14 novos estádios, incluindo as arenas do Grêmio e do Palmeiras, no padrão Fifa. Na verdade, espero que sim.

Você será comentarista de TV. Disse que terá liberdade para criticar jogadores, estrutura e organização. Faça uma crítica a Neymar.

Ainda não assumi (risos)! A única coisa que acho é que o caminho natural dele é jogar na Europa. Eu teria ido há tempos. Ele alcançou um nível no Brasil que só tende a manter. Para dar um salto, tem de jogar na Europa. Sobre o novo trabalho, terei total tranquilidade para críticas. Mas, se fosse uma crítica dura a Anderson Silva (do MMA e seu primeiro agenciado na sua empresa 9ine)... Não me sentira à vontade. Ele, fatalmente, me pegaria na esquina (risos). O que farei é falar o que acho, mas com muito respeito.

Onde Neymar deve jogar?

Tem de ser em clube grande e com tradição. Indicaria o Real Madrid!

Já falou, de brincadeira, ‘imagina na Copa’? Em que situação?

Ah, já (risos)! Tem as clássicas, né? Em aeroporto cheio e com atrasos. E no trânsito. Essas são reclamações diárias.

As obras do estádio do Corinthians estão atrasadas. Você pode ajudar?

Tenho acompanhado. Não é preocupante. Em algum momento, a solução será encontrada. São Paulo, em hipótese alguma, pode ficar fora da Copa do Mundo. Já é um prejuízo para a cidade e para a Fifa ter ficado fora da Copa das Confederações. Para 2014, não há esta chance. Mas não entro nisso, não faz parte da minha função no comitê.

Há boatos de que Brasília poderia herdar a abertura da Copa...

Desconheço esta possibilidade.

Há problemas na organização?

O problema nosso é cultural. Deixar tudo para a última hora. Tivemos tempo, desde 2007, para nos organizar. A pressão de hoje seria inexistente.

O que mudou da gestão de Ricardo Teixeira para a de José Maria Marin?

Não acompanho a gestão da CBF. Só pela imprensa. Não sei até que ponto as notícias são verdadeiras. O que espero é que a gestão seja mais transparente, limpa e organizada. E, infelizmente, a gente não vê isso ainda. Temos tantos problemas que ao menos o futebol poderia ser só diversão. O futebol precisa de um choque de gestão.

Romário e Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, morto pela ditadura, entregaram petição na CBF, pedindo a saída de Marin, que foi deputado da Arena. O que acha?

Acho legítimo. Não sei até onde pode haver mudanças com este movimento. O que eles querem é o que eu também quero. Um choque de ordem no futebol brasileiro. Tem muita coisa que não queremos mais ver: falta de transparência, calendários ruins, brigas de torcidas... E se o Marin não consegue fazer isso... Tem de trocar. E tem de entrar alguém capaz de pôr tudo isso em prática. A CBF precisa se modernizar. O futebol precisa de pessoas jovens e dinâmicas, de ideias novas. Poxa... Em Copa do Mundo, cantamos o nosso hino! O futebol representa o nosso país. E quem vai representar a gente e cuidar do que é nosso?

Você seria candidato?

Não! Pelo amor de Deus! Mas também... nunca diga nunca (risos). Tão cedo não seria candidato. Tenho muito a aprender sobre gestão e política do futebol. Teria de me preparar.

Seguiria os passos do Romário?

Não... (risos). Política, não. Gosto mais de onde estou inserido hoje.

Você foi convidado para o COL também para ser escudo de dirigentes desgastados com público e governo?

Não sei exatamente. Sei que estou lá. E, sim, querem contar com o meu carisma, minha honestidade e meu comprometimento. Agrego isso, sim. Mas, se tiver coisa errada, eu não vou participar. Tanto que minha primeira atitude ao assumir o comitê foi negar o salário oferecido. Abri mão porque não preciso de dinheiro. Quero ter liberdade de sair fora se achar que tem algo errado. E sair pela porta da frente.

Hoje você trabalha mais do que treinava?

Trabalho mais e ganho menos...

Você perdeu 17kg no ‘Medida Certa’, do ‘Fantástico’, e ficou com 101,5kg. Ganhou peso de novo?

Tô mantendo e reduzindo. Perdi mais uns 23kg. Estou evitando as besteiras.

Este assunto te persegue...

Mesmo quando estava magro, me chamavam de gordo! Sacanagem (risos). Não entendia. Em 2006 cheguei a pesar 91kg! Tá bom, né?

Uma lembrança de Copa...

Todos os segundos da final de 2002.

Vai morar em Londres?

Viajo terça-feira. Vou estudar e trabalhar no grupo WPP. Preciso melhorar muito meu inglês, que é bem caído. Até dá para conversar. Mas, para entrevistas e discursos, não dá.