Por Vinícius Cassela, g1 — Brasília


O fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus foi exibido pelo governo após ser repatriado da Alemanha — Foto: Vinícius Cassela/g1

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), recebeu nesta segunda-feira (12) o fóssil do dinossauro Ubirajara Jubatus, descoberto no município de Santana do Cariri, no Ceará, nos anos 90.

O fóssil foi retirado da região do Cariri cearense de maneira irregular e levado para o o Museu Estadual de História Natural da cidade de Karlsruhe, na Alemanha, em 1995.

Agora, o fóssil será levado para o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, administrado pela Universidade Regional do Cariri (Urca).

De acordo com análises laboratoriais, o Ubirajara Jubatus tem aproximadamente 110 milhões de anos. É o fóssil o mais antigo encontrado na região.

O fóssil chegou ao Brasil em 4 de junho deste ano, por um avião oficial do governo alemão. E na segunda-feira (5), o material fossilífero foi analisado por representantes dos lados brasileiro e alemão.

O curador de paleontologia do Museu de História Natural de Karlsruhe, Julien Kimmig, fez uma mea-culpa sobre a forma como o fóssil foi tratado pelos pesquisadores alemães após ser retirado do Brasil.

"A história desse espécime e a forma como o assunto foi tratado após a sua publicação de sua descrição foram muito infelizes. Portanto, toda a nova equipe do departamento de geociências do museu está muito feliz, porque pudemos apoiar os esforços para o retorno do fóssil Ubirajara para o Brasil", afirmou Kimmig.

A ministra da Ciência e Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, afirmou que o retorno do fóssil para o Brasil é um orgulho para o país e, principalmente, para as pessoas da região onde o Ubirajara foi retirado.

"A repatriação do Ubirajara é um símbolo da cooperação e reconhecimento dos valores autônomos brasileiros, notadamente no geoparque Araripe", afirmou.

O dinossauro

O fóssil Ubirajara jubatus é um holótipo, ou seja, é uma peça única que serviu de base para a primeira descrição, a descrição original de uma espécie.

O Ubirajara é descrito como uma espécie exótica, com uma espécie de crina nas costas e “varetas” saindo dos ombros. Ele era do tamanho de uma galinha. Apesar destas características, o Ubirajara é o primeiro dinossauro não-aviário encontrado nas Américas.

O dinossauro era do tamanho de uma galinha e revestido por penas. Ele é considerado importante, pois é tipo "ancestral" das aves que conhecemos hoje.

O fóssil em si está dividido em duas placas de pedra Cariri (calcário laminado): uma placa de 47 cm x 46 cm x 4 cm, e peso de cerca de 11,5 quilos; a segunda placa mede 47 cm x 46 x 3 cm e pesa cerca de 8 quilos.

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Devolução

A descoberta da nova espécie Ubirajara Jubatus, descrita a partir do fóssil encontrado no Cariri cearense, foi anunciada em outubro em 2020 na revista científica Cretaceous Research.

Segundo o artigo, o fóssil havia sido levado para a Alemanha em 1995 a partir de uma autorização do então Departamento Nacional de Produção Mineral, atual Agência Nacional de Mineração (ANM).

Contudo, de acordo com a legislação brasileira, os fósseis são patrimônios da União e sua compra e venda é proibida. Sua extração, de fato, depende de autorização ou comunicação à ANM.

Contudo, a agência não tem autoridade para liberar a saída do fóssil do território nacional.

Desse modo, já na data da publicação do artigo, a comunidade científica brasileira questionou a legalidade do fóssil estar no museu alemão de Karlsruhe. A partir daí, teve início as tratativas para devolver o fóssil ao Brasil.

Em 2022, o Conselho de Ministros do estado de Baden-Württemberg decidiu que o Brasil poderia receber de volta o fóssil já que não ficou comprovado como foi realizada a aquisição e importação do dinossauro pela Alemanha.

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Renomeação

Após a decisão da justiça alemã, o estudo publicado em 2020 foi invalidado pelo mundo científico. Com isso, a equipe do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens deve fazer um novo estudo para descrever o animal que habitava a região do Araripe.

Neste novo estudo, a equipe científica pode decidir por escolher um novo nome para a espécie, que é a primeira do tipo identificada.

Fósseis perdidos

De acordo com a paleontóloga, Aline Ghilardi, que recentemente publicou uma pesquisa sobre espécimes de dinossauros da região do Araripe que foram para fora do Brasil nos últimos 30 anos, existem cerca 70 fósseis de animais vertebrados e plantas espalhados ilegalmente ao redor do mundo.

Todos esses fósseis são do tipo holótipos, ou seja, são peças únicas que servem de base para a descrição original de uma espécie e, por isso, possuem um valor imensurável. E parte deste material está na Alemanha.

"Isso é a ponta do iceberg. Esses são os materiais que foram publicados. Tem os materiais que ainda estão dentro dos museus e tem os materiais que a gente nunca vai saber da existência deles porque eles vão parar na mão de particulares. Então, o problema é muito maior do que a gente imagina, a gente só arranhou a superfície do problema", afirmou Ghilardi.

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