Rio

Executivo da Match terá que se apresentar quinzenalmente à Justiça do Rio

Raymond Whelan foi liberado da prisão após pagar fiança de R$ 5 mil e entregar o passaporte
O diretor-executivo da Match Services, Raymond Whelan, deixa a 18ª DP, após ter conseguido um habeas corpus durante a madrugada Foto: Fernando Quevedo / Agência O Globo
O diretor-executivo da Match Services, Raymond Whelan, deixa a 18ª DP, após ter conseguido um habeas corpus durante a madrugada Foto: Fernando Quevedo / Agência O Globo

RIO - O britânico Raymond Whelan, de 64 anos, diretor-executivo da Match Services e apontado pela Polícia Civil como chefe de uma quadrilha internacional de cambistas, terá que se apresentar quinzenalmente à Justiça do Rio. A medida foi determinada pela desembargadora Marília de Castro Neves Vieira, que, ao conceder habeas corpus, também arbitrou um pagamento de fiança de R$ 5 mil, além do recolhimento do passaporte do estrangeiro.

Na decisão, de três páginas, a desembargadora argumenta que o britânico não representa perigo que justifique sua permanência na prisão, mas não trata a detenção como arbitrária:
"Ora, havendo já a autoridade policial apreendido celulares, computador pessoal, ingressos e documentos que estavam em poder do acusado, não vislumbro a necessidade da manutenção da medida restritiva de liberdade", segundo trecho do despacho.

O delegado titular da 18ª DP (Praça da Bandeira), Fábio Barucke, disse que vai concluir ainda nesta terça-feira o inquérito que apura a máfia dos cambistas e a venda de ingressos privilegiados da Copa do Mundo. Barucke afirmou que deve pedir, ainda, a prisão preventiva de Whelan e de todos os envolvidos no caso. Barucke acredita que Whelan, que é acusado de cambismo e formação de quadrilha, só deve falar em juízo. Isso não impedirá, no entanto, a conclusão do inquérito e o pedido de prisão preventiva.

Fernando Fernandes, advogado de Whelan, elogiou a rapidez do Judiciário, mas criticou a ação que levou à sua prisão. Fernandes disse ainda que os direitos de seu cliente não foram respeitados:

— A lei brasileira determina que existem medidas suficientes para garantir uma investigação sem a necessidade de prisão. Qualquer um pode ser investigado, essa é uma garantia do Estado. Mas os cidadãos também têm suas garantias. Se não fosse a reação do Judiciário, criaríamos uma sensação de que é o Brasil é um país que não respeita suas próprias leis.

Segundo ele, o Juizado Especial do Torcedor foi criado para resolver situações de menor potencial ofensivo. Para Fernandes, ele não pode imputar organização criminosa, que é um crime grave, nem tem autoridade para autorizar escutas telefônicas. O advogado acredita que a ação vai repercutir negativamente não só para o Whelan e para a empresa Match, mas também para o Brasil.

— Foi uma operação irresponsável do ponto de vista legal, com consequências de mídia desastrosas para nosso país. Precisamos demonstrar que temos arcabouço legal para receber eventos como a Copa do Mundo. Parece que estamos enfrentando um problema cultural de permanência de raciocínios do regime ditatorial que tivemos em nosso país — avaliou o advogado, acrescentando que Whelan está muito cansado depois de passar a noite na prisão, e não terá condições de dar entrevistas nesta terça-feira.

Whelan foi detido com 82 ingressos de jogos da Copa enquanto tomava cafezinho no saguão do Copacabana Palace, onde está hospedado. A Match Services é uma empresa associada à Fifa que tem exclusividade para a venda de pacotes para o Mundial. Em nota, a empresa afirmou, nesta terça-feira, que continuará a apoiar plenamente todas as investigações policiais.

"Enquanto isso, Ray Whelan, assim como o resto do pessoal da Match, vai continuar a trabalhar em nossas áreas operacionais de responsabilidade, a fim de entregar uma bem-sucedida Copa do Mundo da Fifa 2014", diz trecho da nota.

CHEFE DE POLÍCIA: OUTROS SUSPEITOS SERÃO PRESOS

O chefe de Polícia Civil Fernando Veloso, após um encontro com o delegado titular da 18º DP (Praça da Bandeira), Fabio Baruke, disse que ainda há muito material colhido durante as investigações para ser analisado e que outras pessoas envolvidas no esquema fraudulento de compra e venda irregular de ingressos serão identificadas. Veloso informou que outras delegacias estão dando apoio à 18º DP, especialmente com intérpretes das línguas francesa e inglesa.

— Há muitos áudios em lingua estrangeira. Ouvir e transcrever esse material em língua portuguesa já é muito trabalhoso, pois não são só as palavras que precisam ser traduzidas, mas sim o espírito do que estava acontecendo ali. Há muitos códigos que é preciso decifrar — disse Veloso, que veio para a delegacia manifestar seu apoio ao trabalho do delegado Baruke, devido ao impacto internacional que as investigações estão causando.

O chefe de polícia reiterou que não vai admitir que a investigação seja prejudicada, seja por qualquer pessoa da Fifa, ou não.

DIRETOR DA MATCH FOI LIBERADO NA MADRUGADA

Whelan foi liberado por volta das 4h50m desta terça-feira. Ao ser liberado, o britânico seguiu direto para o hotel onde está hospedado, sem falar com a imprensa. Whelan ficou preso por cerca de 12 horas.  Ele deverá ser intimado para prestar depoimento, mas ainda não há previsão. Inicialmente, o diretor-executivo da Match Services ficou em uma cela especial da 18ª DP. Depois que o habeas corpus foi concedido, ele aguardou a chegada do oficial de justiça numa sala comum.

Aparentemente surpreso com a prisão, o britânico negou qualquer ligação com o argelino naturalizado francês Mohamadou Lamine Fofana, preso na semana passada sob acusação de integrar um esquema de venda ilegal de ingressos para a Copa.

Whelan, que estava vivendo no país há dois anos, não explicou por que o número de seu aparelho celular, cedido pela Fifa, aparecia na memória do telefone de Fofana com o nome de Ray Brasil. As investigações mostram que o franco-argelino trocou em torno de 900 telefonemas e mensagens de texto com Whelan, que seria o responsável pelo repasse de parte dos ingressos negociados no mercado paralelo por Fofana.

Policiais civis fazem operação no Hotel Capacabana Palace para prender o diretor da Match Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo
Policiais civis fazem operação no Hotel Capacabana Palace para prender o diretor da Match Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo

A prisão de Whelan fez parte das investigações que já haviam levado à prisão 11 pessoas, inclusive Fofana. De acordo com o inspetor Vicente Barroso, que acompanhou a prisão do britânico, o executivo estava hospedado no 5º andar do Copacabana Palace, juntamente com integrantes do alto escalão da Fifa. Na suíte do estrangeiro, os policiais apreenderam US$ 1,3 mil, aparelhos celulares, vários ingressos (inclusive para a final), um computador e documentos que serão analisados.